Réveillon chegando e eu, como a maioria das pessoas, comecei a pensar sobre 2019...
Na reflexão de fim de ano, o que tomou minha mente como grande conquista de 2019 foi a separação. Em seguida me questionei se o fim de um casamento seria algo para me orgulhar. Não porque eu pense que um divórcio seja um fracasso, mas porque milhões de pessoas no mundo todo devem ter se separado em 2019. Nada fora do comum, certo?
No entanto, logo eu me dei conta de que PARA MIM foi, sim, um enorme feito! Recebi uma mensagem linda da minha melhor amiga no dia 31/12, que dizia, entre outras coisas: “Você é um exemplo de mulher para mim. De que é possível dar a volta por cima. Você me obriga a ser melhor com o seu exemplo do que é ser melhor a cada dia, do que é buscar forças em todas as fontes que aparecem.” Ela estava se referindo principalmente à minha separação, uma vez que ela acompanhou tudo de perto.
Nenhuma separação é fácil, eu sei, mas o meu casamento era o sonho de muitas mulheres. E como é que você abre mão de um marido que te ama, que prefere ficar só com você a fazer qualquer outra coisa no mundo, que é bonito, honesto, bom caráter, bom coração, carinhoso, inteligente, trabalhador, que pensa igual a você em muuuitos aspectos, que preza a família (a sua e a dele), com quem você tem uma história de mais de 20 anos, com quem você já viajou para todos os continentes, em quem você confia e partilha os momentos bons e ruins da vida? Como é que se faz isso se ele não te traiu (ou melhor, não fiquei sabendo que tenha me traído...), não te bateu, não cometeu nenhum crime, não fez nada de grave a ponto de qualquer pessoa não só apoiar, mas incentivar a separação? Pelo contrário, frequentávamos os melhores restaurantes, tínhamos amigos e vida social relativamente ativa, viajávamos muito. E eu não estava apaixonada por ninguém e nem queria trocar de companheiro.
Tínhamos algumas questões e a mais grave era o ciúme e o controle, que eram limitantes para mim, mas que tampouco me seguravam completamente, pois eu acabava saindo sozinha, eu tinha alguns momentos só meus. O problema real era que essa não era mais a vida que eu queria para mim.
Então era como se eu estivesse jogando fora um relacionamento que não deveria ser deixado para trás. Era como se eu estivesse maluca. Mas, no meu coração, eu sabia que não estava maluca e era isso que eu tinha que fazer.
Não tínhamos filhos, ambos tínhamos independência financeira e saúde perfeita, então não havia nenhum complicador desse tipo na equação.
Só que ele não aceitava o fim. Eu não o odiava. E isso me prendia a ele. Como eu faço terapia, sei que EU é que me prendia a isso, sei que a responsabilidade de me sentir encalacrada nessa situação era toda minha e só minha. Ele poderia ter facilitado as coisas para mim e dito “ok, se é isso mesmo que você quer, some da minha frente que eu não vou te impedir”? Poderia. Sei de pessoas que reagiram assim em casos parecidos. Mas ele também estava no direito dele de querer manter a relação e fazer tudo o que achava possível e necessário para que eu não o deixasse, quaisquer que fossem as razões dele. Então esse foi mais um obstáculo que tive que vencer - as minhas próprias questões: a culpa de “destruir” esse relacionamento e a fantasia de que eu iria destruir junto o meu ex. Foram 8 meses desde a primeira vez em que eu disse, com todas as letras, que não queria mais continuar com ele até a efetiva separação (que acho que vale um outro texto exclusivo para contar como foi). Ou seja, um processo demorado e nada fácil para mim.
Hoje penso que aconteceu como tinha que acontecer. Oito meses parecem muito tempo, mas acho que foi o tempo necessário para eu sair da relação com o sentimento de que tinha feito tudo que devia, de que não restava mais nada depois de ter tentado mais um pouco e mais um pouco e mais um pouco... Nesse período, fizemos terapia de casal, tiramos férias juntos (programadas no ano anterior) e viajamos para a Nova Zelândia, repetimos as conversas zilhões de vezes. Um processo doloroso, mas, quando se resolveu, eu simplesmente me senti aliviada e livre. E obviamente meu ex não ficou destruído (magoado com certeza, mas não morreu).
Agora estou aproveitando tudo o que a vida de solteira tem a oferecer! E, olhando para trás, fazendo o balanço de 2019, sem dúvida a separação foi um marco importantíssimo na minha vida e não tenho razão para me questionar ou me envergonhar por dar tanto valor a ela, por considerá-la o foco central do ano. Porque foi uma conquista, sim! Porque eu tive que ter coragem, sim! Tive que dizer não a ficar acomodada e dizer sim para a minha felicidade e a minha verdade. Dizer sim para mim em primeiro lugar, independente do que dita o padrão de boa moça, boa filha, boa esposa, boa sei-lá-mais-o-quê. Tão diferente de como eu estava acostumada a agir, querendo sempre agradar, sempre fazer o “certo” e não o que eu quero... Então tenho mais é que celebrar, sim (e sem reservas), ter dado esse passo que pode parecer tão corriqueiro, mas que foi preciso mover muita coisa em mim para poder fazer acontecer e que foi também uma expressão de autocuidado, autorrespeito e amor próprio.
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